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A língua é uma das minhas maiores paixões - seja no campo da linguística seja relativa ao paladar. Este blog está centrado na primeira opção, mas de tudo um pouco pode ser encontrado aqui: leituras deleite, dicas, tira-dúvidas, análises linguísticas e tópicos de gramática normativa, curiosidades, humor e muito mais. Está esperando o quê?! Professor Diogo Xavier

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Enem 1998 II

Vamos comentar mais uma questão do Enem de 1998.


A discussão sobre gramática na classe está “quente”. Será que os brasileiros sabem gramática? A professora de Português propõe para debate o seguinte texto:
PRA MIM BRINCAR
Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no infinito. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não sabem gramática.
¾ As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e miúde.
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. Pág. 19)

17 Com a orientação da professora e após o debate sobre o texto de Manuel Bandeira, os alunos chegaram à
seguinte conclusão:
(A) uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a busca da identidade do povo brasileiro e o registro, no texto literário, da diversidade das falas brasileiras.
(B) apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do Brasil, ainda foram preconceituosos em relação às cariocas. (nada indica isso)
(C) a tradição dos valores portugueses foi a pauta temática do movimento modernista. (pelo contrário, foi a busca da identidade nacional o "carro-chefe" do modernismo)
(D) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram em seus textos o primitivismo da nação brasileira. (o primitivismo remonta a origem portuguesa, item mal visto pelo modernismo)

(E) Manuel Bandeira considera a diversidade dos falares brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa.  (Ele, pelo contrário, critica a norma culta, considerando-a artificial e "macaqueada" da sintaxe lusíada.


No texto de Manuel Bandeira, o autor defende que o falar popular é mais "gostoso". E vejam, Bandeira morreu em 1968, e já naquela época, tinha-se a noção de que o falar popular é válido. E já naquela época, o MIM é usado como sujeito. Inclusive, hoje há falantes que, mesmo sendo considerados cultos, usam essa forma no contexto de informalidade. Se a gramática normativa fosse atualizável e atualizada, essa norma (de normal) já teria sido incorporada à gramática culta como caso facultativo. Enfim. A questão pede uma conclusão plausível sobre as afirmações de Manuel Bandeira.
Para isso, é necessário saber um pouco de literatura também. Olha a interdisciplinaridade aí. O modernisno apresenta vários exemplos de registro da diversidade cultural e linguística brasileira, reafirmando nossa identidade (uma das marcas do movimento modernista). Mário de Andrade registrou as diversas culturas e os diversos falares em Macunaíma. Da mesma forma, Bandeira, em diversos poemas, cita sua admiração pela variedade linguística popular. Oswald de Andrade ressalta a tendência (bem antiga) de, na fala, usarmos próclise no início de frase: "Me dá um cigarro". Enquanto Drummond usa o verbo TER no lugar de HAVER (outra tendência da norma popular): Tinha uma pedra no meio do caminho. Tudo isso para dizer que a letra A é a correta.

3 comentários:

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