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A língua é uma das minhas maiores paixões - seja no campo da linguística seja relativa ao paladar. Este blog está centrado na primeira opção, mas de tudo um pouco pode ser encontrado aqui: leituras deleite, dicas, tira-dúvidas, análises linguísticas e tópicos de gramática normativa, curiosidades, humor e muito mais. Está esperando o quê?! Professor Diogo Xavier

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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Postagem nº 50 - cinquentésima? Numerais ordinais.

Em primeiro lugar, peço desculpas por passar tanto tempo sem postar nada (umas duas semanas).
Aproveitando o ensejo de essa postagem ser a de número 50, vou falar hoje de númerais ordinais.


A palavra ordinal indica algo relativo a ordem, posição. E é exatamente isso que os numerais ordinais fazem: indicam a ordem de alguém ou alguma coisa.
Vários desses numerais causam dificuldades dos falantes do Português na ora de escrever por extenso ou de falar. Na verdade, não é necessário "decorar" todos os númerais ordinais do 1º ao bilionésimo.
Explico porque.
Na "casa" das unidades, todos já conhecem os ordinais:
1º   primeiro
2º   segundo
3º   terceiro
4ª   quarto
5º   quinto
6º   sexto
7º   sétimo
8º   oitavo
9º   nono

Para saber por extenso do 10º ao 99º ordinal, basta saber mais 9 ordinais, da "casa" das dezenas:
10º   décimo
20º   vigésimo
30°   trigésimo
40º   quadragésimo
50º   quinquagésimo (então essa é a nossa quinquagésima postagem)
60º   sexagésimo
70º   septuagésimo (ou setuagésimo = facultativo, conforme a nova ortografia)
80º   octogésimo
90º   nonagésimo

Com esses 18 ordinais, já é possível saber 99 no total, através da combinação de dezenas e unidades. Exemplo: Eu estou no meu 21º ano de vida. Como ficaria isso por exenso? Como eu disse, é só combinar a unidade (1 - primeiro) e a dezena (20 - vigésimo). Assim, estou no meu vigésimo primeiro ano de vida.

Vamos prosseguir para as centenas, mais nove numerais:
100º   centésimo
200º   ducentésimo
300º   trecentésimo/ tricentésimo
400º   quadringentésimo
500º   quingentésimo
600º   seiscentésimo/ sexcentésimo
700º   septingentésimo
800º   octingentésimo
900º   nongentésimo/ noningentésimo

Bem, já sabemos 999 ordinais, seguindo a mesma lógica de combinação.
Exemplo: Vejamos o número 999º. Unidade: 9 - nono; dezena: 90 - nonagésimo; centena: 900 - noningentésimo. Dessa forma: noningentésimo nonagésimo nono.

De um mil a cem mil, fica fácil:
1.000º     milésimo
10.000º   dez milésimos/ décimo milésimo
100.000º cem milésimos/ centésimo milésimo
Vamos ao exemplo: 2009 d.C. - dois milésimos nono ano depois de Cristo ou segundo milésimo nono ano depois de Cristo.
Mais um, só para fixar: 198.546 (cento e noventa e oito mil, quinhentos e quarenta e seis). Esse é "punk", mas nada de pânico. É só começar das unidades e seguir a ordem: 6 (sexto), 40 (quadragésimo), 500 (quingentésimo); 198.000 (198 milésimos ou centésimo nonagésimo oitavo milésimo). Juntando tudo: cento e noventa e oito milésimos, quingentésimo quadragésimo sexto ou centésimo nonagésimo oitavo milésimo, quingentésimo quadragésimo sexto.
Por fim, vamos ao milhão e bilhão:
1.000.000º          milionésimo
1.000.000.000º   bilionésimo

Cansei de tanto ordinal. Por hoje é só.
Abraços
prof. Diogo Xavier
Palavras-chaves: gramática; numeral; numerais ordinais; língua portuguesa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Eu sou um professor




Eu sou um professor

Nasci no primeiro momento em que uma pergunta saltou da boca de uma criança.Tenho sido muitas pessoas em muitos lugares.Sou Sócrates, estimulando a juventude de Atenas para descobrir novas idéias usando perguntas.

Sou Anne Sullivan, tamborilando os segredos do universo sobre a mão estendida de Helen Keller.Sou Darcy Ribeiro, construindo uma universidade, a partir do nada no planalto brasileiro.

Os nomes daqueles que exerceram minha profissão, constituem uma galeria notável para a humanidade: Paulo Freire, Montessori, Emília Ferreiro, Moisés, Jesus.

Eu sou também aqueles nomes e rostos que já foram esquecidos, mas cujas lições e cujo caráter serão sempre lembrados nas realizações dos que educaram.

Já chorei de alegria em casamentos de ex-alunos, ri de felicidade pelo nascimento de seus filhos...

No decorrer de um dia, já fui chamado para ser artista, amigo, enfermeiro, médico, treinador, tive de encontrar objetos perdidos, emprestar dinheiro, substituto de pai e mãe...

Eu sou um paradoxo. Quanto mais escuto, mais alta se faz ouvir a minha voz. Quanto mais estou disposto a receber com simpatia o que vem de meus alunos, mais tenho a oferecer-lhes.Eu sou um caçador de tesouros, dedicado em tempo integral à procura de novas oportunidades para meus alunos usarem seus talentos e buscando sempre descobrir seu potencial...

Sou o mais afortunado dos trabalhadores.Um médico pode trazer uma vida ao mundo num só momento mágico. A mim é dado cuidar que a vida renasça a cada dia com novas perguntas, melhores idéias e amizades mais sólidas.Um arquiteto sabe que se construir com cuidado, sua estrutura pode durar séculos. Um professor sabe que, se construir com amor de verdade sua obra com certeza durará para sempre.

Sou um guerreiro que luta todos os dias contra a pressão de colegas, a negatividade, o medo, o conformismo e a apatia. Mas tenho grandes aliados: a inteligência, a curiosidade, a criatividade, a fé, o amor, o riso.

E assim tenho um passado rico em recordações. Tenho um presente desafiador, cheio de aventuras e alegrias, porque me é dado passar todos meus dias com futuro. Sou um professor... E agradeço a Deus por isso, todos os dias.

Felicidades pela passagem do DIA DO PROFESSOR.

(Texto de John Schlatter, adaptado por Guiomar de Mello)

domingo, 11 de outubro de 2009

Substantivo Concreto x Substantivo Abstrato II

Na parte I desta postagem, pesquisei algumas gramáticas para tentar sintetizar um conceito bem definido a respeito da diferenciação entre substantivo concreto e abstrato. Confesso que ainda não fiquei tão satisfeito com o resultado, principalmente pelo termo COISAS, presente no conceito de concreto, pois é um vocábulo muito vago, que dá margem a muitas interpretações; mas aí está:

Substantivo contreto: representa seres propriamente ditos, ou seja, que têm existência própria e podem ser reconhecidos pelos sentidos, bem como distinguidos entre animados ou inanimados, reais ou criados pela imaginação: pessoas, animais, vegetais, minerais, coisas e instituições.


Substantivo abstrato: designa sentimentos, sensações físicas, ações, estados, qualidades (características), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual. Além de estar sempre apoiado em algo para ser percebido, foge à distinção entre animado ou inanimado, real ou imaginário. As noções nomeadas pelo substantivo abstrato denotam propriedades abstraídas (separadas) dos seres propriamente ditos.


Nesta postagem tentarei enquadrar as palavras abaixo numa das duas classificações, de acordo com os conceitos que consegui obter com a pesquisa:
 
Carnaval - quando pus essa palavra, estava pensando no período que vai do Sábado de Zé Pereira à Quarta feira de Cinzas. É um desafio imenso classificar essa palavra, pois eu não lembro de ter visto uma vez sequer nomes de datas comemorativas como exemplo da classificação concreto x abstrato. Parece que as gramáticas têm consciência da vaguidão do seu conceito e foge a palavras que ofereçam mais dificuldade. Pegando o conceito de substantivo contreto (tem existência própria), acredito poder enquadrar datas comemorativas como CONTRETO, pois, apesar de ser uma convenção humana a sua existência, elas passam a acontecer sem que ninguém aja para isso.
 
Chulé - ser inanimado e real, mais real do que deveria, se enquadra como CONCRETO também por ser reconhecido pelos sentidos (e como!).
 
Bagunça - essa palavra é passível de confusão, pois existe um verbo correspondente a essa palavra (bagunçar), mas que não é aceito como original, e, sim, derivado do substantivo bagunça. Dessa forma, não podemos dizer que bagunça é abstrato. É CONCRETO porque é reconhecível por pelo menos dois dos nossos sentidos: visão e tato.
 
Ar - devido ao conceito simplista apresentado por algumas gramáticas e reproduzido por alguns professores (abstrato é o que não se pode ver ou tocar), essa palavra é passível de equívocos. O ar é um ser de existência independente, ou seja, não se apoia na existência de nenhum outro ser. Além do mais, podemos apertá-lo, fazendo aquela experiência de apertar o êmbolo da seringa fechando a ponta. É, portanto, CONCRETO.
 
Carro - gosto de questionar os conceitos dessa classificação usando tal palavra. O substantivo concreto tem existência independente (mas o carro não precisa de homens e máquinas para montá-lo?). A nocão de independência de que falamos é a seguinte: o "ser" dependente precisa se apoiar na existência de outros seres para existir e ser percebido. Corrida, por exemplo, para existir deve se apoiar em alguém que esteja praticando a ação de correr. Se esse alguém parar de correr, não há mais corrida. O carro, por outro lado, depende de outros seres para ser fabricado, mas independe deles para continuar existindo. CONCRETO então.
 
Idade Média - refere-se a um período da história humana. Não é uma noção abstraída de algum ser, mas a nomeação de um intervalo de tempo, que não dependeu de ninguém para acontecer (dependeu de alguém para pôr tal nome, o que não é o mesmo caso). Então é CONCRETO.
 
Poema - é uma composição poética escrita em versos. É perceptível pelo sentido da visão e da audição (quando recitado). Depois de escrito, não depende que alguém esteja lendo para existir, por exemplo. Poema, dessa forma, é CONCRETO.
 
Poesia - é uma concepção. A grosso modo, é uma composição artística cujo conteúdo apresenta uma visão emocial da abordagem de ideias. Pode ser percebida pelos sentidos, portanto é CONCRETO.
 
 Educação - Primitivamente, educação é o nome da ação de educar, sendo, assim, ABSTRATO.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dicas para aproveitar o feriadão - imagens dizem mais que palavras












BOM FERIADÃO!!!!

Meu óculos quebrou!!! Ou meus óculos quebraram???

Enquanto noticiava pelo msn à minha namorada a respeito do que aconteceu ao meu par de óculos (uma das hastes ou pernas quebrou), lembrei que o substantivo óculos oferece bastante dificuldade na hora de usar a norma padrão.
Na fala do dia-a-dia, mesmo a mais formal, a tendência no português do Brasil é utilizar a palavra como se ela fosse singular. Ex. "Não acho meu óculos", "Preciso comprar um óculos de sol", "O óculos dela é chique!" etc. Se você fala assim, não se preocupe; a maioria dos brasileiros usa (oralmente) o termo óculos dessa forma. Claro, se você prefere usá-lo conforme o padrão escrito (como vou mostrar) na fala, em especial em contextos mais formais, fica a seu critério.

Bem, buscando o significado no dicionário Houaiss, encontro o seguinte significado para "óculos": substantivo masculino plural, dispositivo usado para auxiliar, corrigir ou proteger a visão, que consiste em um par de lentes sustentadas em frente dos olhos por uma armação; lunetas. Etimologia: plural de óculo. Temos aí uma informação importante: é plural de óculo, que é cada uma das lentes que compõem os óculos.

Cito mais uma vez Houaiss, mas dessa vez para concordar e discordar:
Ele diz que a palavra óculos é naturalmente plural (só no plural é que ela representa o objeto de que estou falando nesta postagem), "sendo, portanto, erro a discordância de número (um óculos) que se tem vulgarizado no português coloquial do Brasil (formas corretas: uns óculos, meus óculos, um par de óculos)".

De fato, segundo a gramática padrão, as palavras ligadas ao substantivo "óculos" devem concordar com ele no plural. Então: "Não acho meus óculos", "Preciso comprar uns óculos de sol / um par de óculos de sol", "Os óculos dela são chiques". Usemos dessa forma na escrita formal.
 
Discordo, por outro lado, da forma como o dicionário de refere à língua coloquial, com termos como erro e vulgarizado, ignorando os inúmeros avanços que as diversas vertentes da linguística trouxeram e trazem constantemente. Como eu disse no início da postagem e em algumas outras, a língua falada não exige um uso exatamente como determina a gramática padrão(GP). Mesmo em contextos formais, há construções que soam artificiais quando faladas. Na escrita formal, por outro lado, devemos nos adequar à GP, sendo, contudo, realistas e atentando ao fato de algumas construções serem pouco usadas "no papel" atualmente (mesóclise, por exemplo). Cabe ao falante, portanto, conhecer e usar as diversas variedades de sua riquíssima língua portuguesa de acordo com suas necessidades.
Tenho dito.

"Compre, então, um óculos escuro e aproveite o feriadão!!!!"
Diogo Xavier

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Para eu ou para mim?

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Saber quando usar a expressão "para eu" ou "para mim" não é um bicho de sete cabeças. Antes de tudo é preciso esclarecer uma coisa: na linguagem oral, a tendência é utilizar sempre o "para mim" e isso não constitui um erro. Devemos apenas tomar o cuidado de num contexto de fala mais formal, bem como na escrita, utilizar as duas expressões conforme "determina" a norma padrão, e é o que veremos aqui.

Primeiro, convém dizer que tanto EU como MIM são expressões que se enquadram na categoria gramatical pronome. Eu - pronome pessoal do caso reto. É usado, por quem fala ou escreve, para se referir a si mesmo. Exerce função de sujeito da oração. Mim - pronome pessoal do caso oblíquo correspondente ao pronome "eu", sempre regido de preposição. Exerce, predominantemente, a função de complemento verbal na oração.

Para EU: é usado quando "eu" é o sujeito do verbo (que vem logo depois, no infinitivo).
Ex. Ele comprou uma revista para eu ler. Temos aqui duas orações. O verbo da primeira (comprou) tem como sujeito ELE. Na segunda oração, cujo verbo é LER, o sujeito é indicado pelo pronome EU. A expressão PARA EU neste caso está indicando PARA FAZER O QUÊ a primeira ação foi praticada.
Outros exemplos:
Mandei-o comprar a massa para eu preparar a pizza. (comprar massa para fazer o quê).
Fui à Bienal e comprei dois livros para eu estudar. (comprar livros para fazer o quê) (nesse caso, o sujeito das duas orações é o mesmo, por isso o pronome poderia ficar oculto e o sujeito seria identificável pela flexão do verbo [fui]). Fui à Bienal e comprei dois livros para estudar.
Precisamos marcar um dia para eu mostrar a vocês as minhas pinturas. (marcar um dia para fazer o quê).

Para MIM: deve ser usado quando o pronome "mim" estiver completando o sentido ou indicando o alvo de alguma ação.
Ex. Ele comprou uma revista para mim. Neste caso, só temos uma oração, e quem pratica a ação dela é o pronome ELE. A expressão "para mim" está apenas indicando PARA QUEM a ação foi feita. O "para mim" também pode ter o sentido de NA MINHA OPINIÃO.
Ex. Para mim, vocês deveriam esperar até amanhã o resultado. Quem está praticando a ação é o pronome de tratamento VOCÊS, e não MIM.
Outros exemplos:
Ela ainda não sabe o que vai dar para mim de presente. (dar para quem?)
Não resta outra escolha para mim. (não resta para quem?)
Não olhe para mim desta forma. (não olhar para quem?)
Para mim, fazer isso é loucura. (na minha opinião; a meu ver)
Vou à Bienal para comprar uns livros para mim. (comprar para quem?)