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A língua é uma das minhas maiores paixões - seja no campo da linguística seja relativa ao paladar. Este blog está centrado na primeira opção, mas de tudo um pouco pode ser encontrado aqui: leituras deleite, dicas, tira-dúvidas, análises linguísticas e tópicos de gramática normativa, curiosidades, humor e muito mais. Está esperando o quê?! Professor Diogo Xavier

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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Chaplin



                                
Ueba!!!!! As férias estão próximas! Saber aproveitá-las bem, porém, é essencial. Passar horas à prente do PC ou à frente da Rede plin-plin não é uma forma muito inteligente de passar as férias. Deve haver um equilíbrio entre os diversos tipos de atividades, por exemplo: jogar futebol ou vôlei, andar de bicicleta, ir à praia (neste aspecto sou sortudo: irei muito em breve me mudar para mais próximo da praia [uns 250m, no máximo]), assistir a filmes, ler livros interessantes, navegar na net (ninguém é de ferro), enfim, de tudo um pouco.
 
 A minha dica de hoje é para um filme, um pouco antigo, pra dizer a verdade (1992), mas muito interessante.
O nome do filme é Chaplin, que, como vocês devem imaginar, é uma biografia do homem que revolucionou o cinema mudo, com inúmeros filmes, a maioria com o seu personagem O Vagabundo, como "Tempos Modernos". O filme se baseia em dois livros sobre o ator: "Minha Autobiografia" e "Chaplin: Sua vida e Arte". O filme traz no elenco o ator Robert Downey Jr (Homem de Ferro) no papel de Chaplin, Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes) e Geraldine Chaplin, a filha de Chaplin na vida real, no papel da mãe do ator.









Geraldine Chaplin

Chaplin é um filme ao mesmo tempo comovente e hilário, e mostra que o homem que fez o mundo rir e refletir teve uma vida não só de alegrias. Esse filme é imperdível.

Titulo Original: Chaplin

Gênero: Drama
Duração: 143 min
País: EUA
Ano: 1992
Direção: Richard Attenborough

Roteiro: Diana Hawkins
Edição: Anne V. Coates
Produção: Richard Attenborough
Estúdio: Carolco Pictures Inc.
Distribuição: TriStar Pictures


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Questões de concurso - PM/PE 2009

Hoje vamos comentar algumas questões de língua portuguesa do concurso da PM de Pernambuco, cujas provas foram aplicadas no dia 22/11/2009.

Questão 24. Anteponha aos períodos C ou E, consoante a concordância nominal esteja Certa ou Errada.

(     ) Os documentos anexo devem ser guardados no armário à direita, pois são sigilosos.
(     ) Apresento a você meu certificado de reservista, pois estou quites com o serviço militar.
(     ) Exceto os dois policiais, todos foram presos como suspeitos.
(     ) Encontrou, no lago, meio submersa a sapatilha de couro.

A sequência obtida foi a seguinte:
A) C – C – C – C.
B) C – E – E – C.
D) E – E – C – C.
C) E – C – C – E.
E) C – C – E – C.

Questão 25. Considerando a norma culta da língua portuguesa sobre a regência verbal, analise as afirmativas abaixo.

I. Haviam muitos problemas para resolver.
II. Hão de existir leis que protejam os mais fracos de fé.
III. Hão de haver leis que protejam os mais fracos.
IV. Podem haver seres viventes em outros planetas.

Houve falhas de regência verbal nas afirmativas

A) I, III e IV, apenas.
B) I e IV, apenas.
D) III e IV, apenas.
C) II, III e IV, apenas.
E) II e IV, apenas.

Questão 29. Viajando pela BR 232, são encontradas várias placas de sinalização. Analise-as quanto ao uso da crase.
 
REDUZA À VELOCIDADE
ENTRADA E SAÍDA DE CAMINHÕES A 3M
DESVIO À ESQUERDA

Está(ão) CORRETA(S)

A) 1, 2 e 3.
B) 2 e 3, apenas.
D) 3, apenas.
C) 2, apenas.
E) 1 e 3, apenas.



COMENTÁRIOS

Questão 24 - A questão pede que analisemos as sentenças quanto à concordância nominal. Vejamos:
ERRADA - Os documentos anexo devem ser guardados no armário à direita, pois são sigilosos. A palavra em questão é ANEXO. Nesse caso, ela está atribuindo uma característica, provavelmente provisória, ao substantivo DOCUMENTOS, assim concluímos que anexo é adjetivo e, como tal, deve concordar em gênero e número com a palavra caracterizada. Feitas as considerações, assim ficaria adequada a frase: Os documentos anexos devem... Se, por exemplo, a expressão fosse EM ANEXO, de fato ela seria invariável, pois se trata de uma preposição e um substantivo, exercendo a função de adjunto adverbial, mas não poderia estar caracterizando um substantivo, já que essa não é a função do adjunto adverbial. Ex. Os documentos que estão em anexo... Nesse caso em anexo está acrescentando circunstância de lugar ao verbo (estão).
ERRADA- Apresento a você meu certificado de reservista, pois estou quites com o serviço militar. A palavra quite é um adjetivo, acrescentando uma característica ao pronome pessoal EU, que está oculto e identificável pela desinência dos verbos (EU apresento, EU estou). Como já foi dito, adjetivo concorda com o substantivo que ele caracteriza (nesse caso, o pronome está exercendo a função de substantivo). Considerando a concordância, a frase seria: ... pois estou quite com... Se o sujeito fosse ELES, por exemplo, aí sim: eles estão quites com...
CORRETA - Exceto os dois policiais, todos foram presos como suspeitos. A palavra EXCETO é preposição, portanto não varia. Todas as outras palavras estão concordando com o sujeito TODOS (presos, suspeitos). Não há, dessa forma, o que alterar na frase.
CORRETA - Encontrou, no lago, meio submersa a sapatilha de couro. Nessa frase, a expressão que pode causar dúvidas é MEIO SUBMERSA. ABRE PARÊNTESES. (Já é tradição os professores de cursinhos falarem: meio, quando é advérbio é invariável; quando é adjetivo, concorda com o termo caracterizado. Acontece que MEIO quando quer dizer METADE é NUMERAL, fracionário, para ser mais específico. É claro que, ao acompanhar um nome, ele funciona como se fosse um adjetivo, mas devemos enquadrá-lo na classe gramatical dos numerais.) FECHA PARÊNTESES. Como a palavra meio não está indicando metade, e, sim, acrescentando uma circunstância de intensidade ao adjetivo submersa, ela é invariável, pois funciona como advérbio. A expressão seria numeral e, portanto, variável se a frase fosse, por exemplo: Encontrou, no lago, meia sapatilha de couro submersa. Meia está indicando metade do substantivo sapatilha.
RESPOSTA: D

Questão 25 - A questão afirma tratar de regência verbal, mas eu acredito estar mais relacionada à concordância verbal. ATENÇÃO: a questão pergunta ONDE HOUVE FALHAS, e não quais estão corretas.
I. Haviam muitos problemas para resolver. O verbo haver, no sentido de existir, é impessoal e, portanto, invariável. A forma adequada seria: Havia muitos problemas...
II. Hão de existir leis que protejam os mais fracos de fé. Neste caso, o verbo haver está sendo usado como auxiliar para indicar tempo futuro. É interessante observar a formação do tempo futuro no português. Do mesmo jeito que a expressão "hão de existir" indica futuro, com o tempo o auxiliar haver se incorporou ao verbo e se tornou flexão de tempo futuro. Observe: hão de existir -> de existir hão -> existirão. O verbo haver, auxiliando para indicar tempo futuro, é variável. A frase está correta.
III. Hão de haver leis que protejam os mais fracos. Esse caso é mais delicado: temos duas informações, a de que o haver indicando tempo futuro varia e a de que haver no sentido de existir não varia. A frase contém, unidos, as duas ocorrências. Qual "regra", então, predomina? A do haver impessoal. Numa locução verbal qualquer em que o haver (no sentido de existir) seja o verbo principal (há de haver, deve haver, vai haver, pode haver), a impessoalidade do verbo haver passa também para o verbo auxiliar, devendo os dois permanecer no singular: Há de haver leis que protejam os mais fracos.
IV. Podem haver seres viventes em outros planetas. Como já foi observado, o haver passar a impessoalidade para o auxiliar: Pode haver seres viventes...
RESPOSTA: A

Questão 29 - A questão pede para analisar as frases quanto ao uso da crase.
REDUZA À VELOCIDADE - Errado. O verbo reduzir é transitivo direto e, como tal, seu complemento não é regido por preposição. O único A presente na frase é o artigo que antecede o substantivo velocidade - não há, então, crase.
ENTRADA E SAÍDA DE CAMINHÕES A 3M - Correto. Diante de números cardinais não se usa artigo, portanto o único A da frase é uma preposição.
DESVIO À ESQUERDA - Correto. A expressão à esquerda funciona como locução adverbial de lugar. Por uma questão de clareza e para evitar ambiguidade, toda locução adverbial FEMININA antecedida da preposição A, é acentuada com o acento grave. A lógica da formação de crase não vale para esse caso, pois, repito, é um caso de clareza. Se eu disser por exemplo: corto a navalha, dá a entender que estou fazendo um corte na navalha, funcionando a expressão como complemento verbal. Se a minha intenção é dizer que corto alguma coisa com o uso de uma navalha, será preciso usar o acento indicativo de crase para deixar claro que a expressão é um adjunto adverbial (de instrumento, no caso). A regra não vale para adjuntos adverbiais masculinos, com os quais não há ambiguidade: a pé, a cavalo, a lápis, a fogo, etc.

RESPOSTA - B.

Até a próxima.
         Prof. Diogo Xavier

sábado, 21 de novembro de 2009

NIGUÉM FALA ERRADO

NIGUÉM FALA ERRADO

 Diogo Xavier


Desde o início da Lingüística Moderna, com os estudos de Saussure, a linguagem vem sendo vista como um fenômeno eminentemente social. Porém, o estabelecimento de um campo de estudo enfocando especificamente esse aspecto, a sociolingüística, se deu em 1964. De 11 a 13 maio desse ano, a Universidade da Califórnia em Los Angeles, por iniciativa de William Bright, reuniu 25 pesquisadores para uma conferência sobre o caráter social da linguagem.

Nenhuma língua é uniforme, ela muda com o passar do tempo e varia geográfica e socialmente. A respeito disso, Calvet (2002) diz:

(...) pode-se perceber numa língua, continuamente, a coexistência de formas diferentes de um mesmo significado. Essas variáveis podem ser geográficas: a mesma língua pode ser pronunciada diferentemente, ou ter um léxico diferente em diferentes pontos do território. (...) Mas essas variáveis podem também ter um sentido social, quando, em um mesmo ponto do território uma diferença lingüística é mais ou menos isomorfa de uma diferença social. (CALVET, 2002, p.89-90).

Isso implica dizer que a variação linguística varia numa mesma região conforme as classes sociais. E qual é a classe social que domina a variedade de prestígio, considerada a “única correta”? A classe dominante, a elite cultual e econômica.

Segundo Possenti, (apud Faraco; Tezza, 2005, p.16), para quem pretende ter uma visão adequada do fenômeno da linguagem, dois fatos devem ser levados em conta: “a) todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a variedade lingüística é o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ou grupos, essas diferenças se refletem na língua.”. Se em nenhuma comunidade ou sociedade as pessoas falam da mesma forma, por que devemos considerar uma ou outra forma de falar errada, incorreta? Não devemos. Todas as formas de falar são válidas e cumprem sua função de comunicar, dentro do contexto adequado. Num país de dimensões imensas como o Brasil, as pessoas já deveriam saber o valor e a importância da diferença, seja ela linguística, étnica, religiosa, entre muitas outras.

As diferenças sociais, assim como as lingüísticas, geram o preconceito. Para Bagno (2003), o preconceito lingüístico é uma forma do preconceito social. “Se discriminar alguém por ser negro, índio, pobre, nordestino, mulher, deficiente físico, homossexual, etc. já começa a ser considerado ‘publicamente inaceitável’, (...) fazer essa mesma discriminação com base no modo de falar da pessoa é algo que passa com muita ‘naturalidade’.” (BAGNO, 2003, p.16). Uma pessoa que discrimina um negro, um pobre ou uma mulher, por exemplo, é fortemente repreendida na sociedade atual. Isso é um grande avanço rumo ao fim do preconceito. Porém, como Bagno citou, se um indivíduo discrimina outro pela sua forma de falar, que é decorrente de sua classe social, ela está, de forma mais ou menos indireta, discriminando a própria classe social da pessoa atingida.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados pelo Ministério da educação, reconhecem a existência do preconceito lingüístico e os prejuízos que acarreta na sala de aula:

O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar ─ a que parece com a escrita ─ e o de que a escrita é o espelho da fala ─ e, sendo assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 2000, p.31).

Assim, “todas as sentenças produzidas pelos falantes de uma língua são bem formadas, independentemente de serem próprias da chamada língua-padrão ou de outras variedades.” (BORTONI-RICARDO, 2004, p.71). Marcos Bagno defende que à escola cabe “levar os alunos a se apoderar também das regras lingüísticas que gozam de prestígio, a enriquecer o seu repertório lingüístico, de modo a permitir a eles o acesso pleno à maior gama possível de recursos para que possam adquirir uma competência comunicativa cada vez mais ampla e diversificada ─ sem que nada disso implique a desvalorização de sua própria variedade lingüística.” (apud Bortoni-Ricardo, 2004, p.9). Por esse motivo é importante e essencial que o aluno aprenda a variedade culta, da elite, mas sem esquecer a variedade que ele aprendeu em casa, na rua ou nos recreios da escola. A competência comunicativa é o que permite ao falante “saber qual forma de fala utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa.” (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 2000, p.31-32).

O ensino da Língua Portuguesa também tem o papel de lutar contra as dominações sociais. Com isso, o domínio da norma de prestígio deve possibilitar aos falantes das camadas populares a chance de lutar pela cidadania com os mesmos instrumentos que possuem os que pertencem às camadas sociais privilegiadas. Para Magda Soares, o indivíduo deve aprender a norma de prestígio “não para adaptar-se à sociedade, mas para lutar contra ela, para adquirir essa arma que os dominantes têm e que é poderosíssima. (...) um instrumento de luta contra a discriminação social, um instrumento que permita ao indivíduo a participação política.” (apud Faraco; Tezza, 2005, p.69).

Tal perspectiva, ancorada no referencial teórico que acabamos de expor, fornece o contexto de valores e de instrumentos conceituais dentro do qual devemos desenvolver nossa prática de ensino da Língua Portuguesa.

Referências:

CALVET, Louis-Jean. Sociolingüística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola, 2002.

POSSENTI, Sírio. Não existem línguas uniformes. In FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Prática de Texto para estudantes universitários. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

BAGNO, Marcos. A norma Oculta: língua, poder na sociedade brasileira. São Paulo: Parábola, 2003.

SOARES, Magda Becker. O povo não fala errado. In FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristovão. Prática de Texto para estudantes universitários. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

Ministério da educação/Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. 2ª ed. Brasília: MEC, 2000.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

UM CÃO, APENAS - Cecília Meireles

UM CÃO, APENAS

Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim - plantas em flor de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito -, eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas. Com um grande esforço acaba de levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem...

Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves: acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento... Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica.

Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens.

Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance; talvez tivesse fome e sede; e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim humilhado, e tão digno, no entanto, como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era seu.

Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa, e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.

(MEIRELES, Cecília. ILUSÕES DO MUNDO: CRÔNICAS. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 16-17)
 
PROSA - CECÍLIA MEIRELES - LITERATURA - UM CÃO APENAS

terça-feira, 17 de novembro de 2009

REDAÇÃO - Enem e outros vestibulares

Devido à proximidade das provas de vestibulares por todo o país, além do Enem, farei algumas considerações a respeito das provas de redação.
Vou mostrar os principais aspectos gerais observados nas redações dissertativas em geral (dissertação e carta argumentativa):

Aspecto estético


a) legibilidade da letra - Letra ilegível atrapalha o entendimento do texto. Tanto letra de forma como cursiva são permitidas, devendo haver o cuidado de diferenciar bem as maiúsculas e minúsculas e não misturar estilos de letra.
b) paragrafação - O texto propriamente dito divide-se em três partes logicoestruturais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Essa divisão é evidenciada pelos parágrafos, que por sua vez são marcados por um deslocamento de 1 ou 2 cm em sua primeira linha.
c) margens regulares - O texto deve ficar o mais próximo possível das margens esquerda e direita, não ficando muito antes nem ultrapassando.
d) ausência de rasuras - Deve-se evitar a rasura, que, em alguns casos, pode inclusive anular a prova. Em caso de identificar o erro no momento em que escreve, feche o erro em parênteses e risque uma linha horizontal na metade da altura do espaço entre as linhas.

Aspecto gramatical


a) ortografia - Forma padrão de escrever as palavras.
b) acentuação - Aqui no blog tem as regras de acentuação, além de exercício. É só treinar.
c) concordância - Escrever respeitando as relações de concordância das palavras determinadas pela gramática normativa.
d) pontuação - O uso inadequado da pontuação pode comprometer o conteúdo do texto, causar ambiguidades e ideias confusas.
e) colocação pronominal - A mesóclise está, de certa forma, aposentada no português do Brasil, mas é bom saber quando deve ser usada segundo a gramática normativa: no caso de ser exigida, você escolhe entre usá-la ou mudar a estrutura da oração para que não seja mais necessária. Ex. Resolver-se-ia o problema caso as autoridades investissem... Alternativas: O problema seria resolvido caso... A solução para o problema é que as autoridades invistam... Com o investimento das autoridades em (...) o problema pode ser resolvido...
f) regência - é importante utilizar a preposição adequada para palavras e verbos de acordo com o sentido pretendido.

Aspecto estilístico


a) repetição de palavras - Demonstra pobreza vocabular. Há várias formas de fazer a coesão do texto sem repetir em termos excesso: sinônimos (cachorro - cão, canino), termos genéricos (cão - animal), pronomes, entre outros.
b) períodos longos - Dificultam o endendimento. O período deve ter um tamanho médio, entre 2 e 4 linhas, para que as informações sejam apreendidas com mais facilidade por quem lê.
c) emprego de palavras desnecessárias - Excesso de adjetivos, por exemplo, dá a impressão de encher linguiça. Só use o necessário.
d) uso inadequado de pronomes relativos (onde, quem, que, o qual, cujo, quanto)
e) presença de elementos (conectivos e expressões) típicos da língua falada - Texto formal exige linguagem formal.
f) Emprego repetitivo de palavras como: "que", "porque" e "mas" - Existe uma quantidade imensa de termos conectores e palavras que funcionam como tal. Use e abuse deles.
g) prolixidade - É usar muitas palavras para expressar pouco conteúdo. Na redação isso pode deixar o texto pouco expressivo, pois, apesar do tamanho, poucas ideias são se fato apresentadas.

Aspecto estrutural


Este aspecto é diferenciado para cada redação, principalmente se os gêneros forem diferentes. Na carta argumentativa, por exemplo, é imprescindível a presença do local e da data, do remetente, da expressão de despedida ou fechamento e da assinatura (fictícia).

VALE LEMBRAR QUE A LEITURA, QUALITATIVA E EM QUANTIDADE CONSIDERÁVEL, DE TEXTOS DIVERSOS É ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA QUEM PRETENDE ESCREVER BEM. Apenas ler, porém, não vai torná-lo um bom escritor. É preciso muito treino e muita disposição para pesquisar, perguntar, errar e acertar.

Abraço,
   Diogo Xavier

REDAÇÃO, VESTIBULAR, ENEM, DICAS, ORIENTAÇÕES

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Postagem nº 50 - cinquentésima? Numerais ordinais.

Em primeiro lugar, peço desculpas por passar tanto tempo sem postar nada (umas duas semanas).
Aproveitando o ensejo de essa postagem ser a de número 50, vou falar hoje de númerais ordinais.


A palavra ordinal indica algo relativo a ordem, posição. E é exatamente isso que os numerais ordinais fazem: indicam a ordem de alguém ou alguma coisa.
Vários desses numerais causam dificuldades dos falantes do Português na ora de escrever por extenso ou de falar. Na verdade, não é necessário "decorar" todos os númerais ordinais do 1º ao bilionésimo.
Explico porque.
Na "casa" das unidades, todos já conhecem os ordinais:
1º   primeiro
2º   segundo
3º   terceiro
4ª   quarto
5º   quinto
6º   sexto
7º   sétimo
8º   oitavo
9º   nono

Para saber por extenso do 10º ao 99º ordinal, basta saber mais 9 ordinais, da "casa" das dezenas:
10º   décimo
20º   vigésimo
30°   trigésimo
40º   quadragésimo
50º   quinquagésimo (então essa é a nossa quinquagésima postagem)
60º   sexagésimo
70º   septuagésimo (ou setuagésimo = facultativo, conforme a nova ortografia)
80º   octogésimo
90º   nonagésimo

Com esses 18 ordinais, já é possível saber 99 no total, através da combinação de dezenas e unidades. Exemplo: Eu estou no meu 21º ano de vida. Como ficaria isso por exenso? Como eu disse, é só combinar a unidade (1 - primeiro) e a dezena (20 - vigésimo). Assim, estou no meu vigésimo primeiro ano de vida.

Vamos prosseguir para as centenas, mais nove numerais:
100º   centésimo
200º   ducentésimo
300º   trecentésimo/ tricentésimo
400º   quadringentésimo
500º   quingentésimo
600º   seiscentésimo/ sexcentésimo
700º   septingentésimo
800º   octingentésimo
900º   nongentésimo/ noningentésimo

Bem, já sabemos 999 ordinais, seguindo a mesma lógica de combinação.
Exemplo: Vejamos o número 999º. Unidade: 9 - nono; dezena: 90 - nonagésimo; centena: 900 - noningentésimo. Dessa forma: noningentésimo nonagésimo nono.

De um mil a cem mil, fica fácil:
1.000º     milésimo
10.000º   dez milésimos/ décimo milésimo
100.000º cem milésimos/ centésimo milésimo
Vamos ao exemplo: 2009 d.C. - dois milésimos nono ano depois de Cristo ou segundo milésimo nono ano depois de Cristo.
Mais um, só para fixar: 198.546 (cento e noventa e oito mil, quinhentos e quarenta e seis). Esse é "punk", mas nada de pânico. É só começar das unidades e seguir a ordem: 6 (sexto), 40 (quadragésimo), 500 (quingentésimo); 198.000 (198 milésimos ou centésimo nonagésimo oitavo milésimo). Juntando tudo: cento e noventa e oito milésimos, quingentésimo quadragésimo sexto ou centésimo nonagésimo oitavo milésimo, quingentésimo quadragésimo sexto.
Por fim, vamos ao milhão e bilhão:
1.000.000º          milionésimo
1.000.000.000º   bilionésimo

Cansei de tanto ordinal. Por hoje é só.
Abraços
prof. Diogo Xavier
Palavras-chaves: gramática; numeral; numerais ordinais; língua portuguesa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Eu sou um professor




Eu sou um professor

Nasci no primeiro momento em que uma pergunta saltou da boca de uma criança.Tenho sido muitas pessoas em muitos lugares.Sou Sócrates, estimulando a juventude de Atenas para descobrir novas idéias usando perguntas.

Sou Anne Sullivan, tamborilando os segredos do universo sobre a mão estendida de Helen Keller.Sou Darcy Ribeiro, construindo uma universidade, a partir do nada no planalto brasileiro.

Os nomes daqueles que exerceram minha profissão, constituem uma galeria notável para a humanidade: Paulo Freire, Montessori, Emília Ferreiro, Moisés, Jesus.

Eu sou também aqueles nomes e rostos que já foram esquecidos, mas cujas lições e cujo caráter serão sempre lembrados nas realizações dos que educaram.

Já chorei de alegria em casamentos de ex-alunos, ri de felicidade pelo nascimento de seus filhos...

No decorrer de um dia, já fui chamado para ser artista, amigo, enfermeiro, médico, treinador, tive de encontrar objetos perdidos, emprestar dinheiro, substituto de pai e mãe...

Eu sou um paradoxo. Quanto mais escuto, mais alta se faz ouvir a minha voz. Quanto mais estou disposto a receber com simpatia o que vem de meus alunos, mais tenho a oferecer-lhes.Eu sou um caçador de tesouros, dedicado em tempo integral à procura de novas oportunidades para meus alunos usarem seus talentos e buscando sempre descobrir seu potencial...

Sou o mais afortunado dos trabalhadores.Um médico pode trazer uma vida ao mundo num só momento mágico. A mim é dado cuidar que a vida renasça a cada dia com novas perguntas, melhores idéias e amizades mais sólidas.Um arquiteto sabe que se construir com cuidado, sua estrutura pode durar séculos. Um professor sabe que, se construir com amor de verdade sua obra com certeza durará para sempre.

Sou um guerreiro que luta todos os dias contra a pressão de colegas, a negatividade, o medo, o conformismo e a apatia. Mas tenho grandes aliados: a inteligência, a curiosidade, a criatividade, a fé, o amor, o riso.

E assim tenho um passado rico em recordações. Tenho um presente desafiador, cheio de aventuras e alegrias, porque me é dado passar todos meus dias com futuro. Sou um professor... E agradeço a Deus por isso, todos os dias.

Felicidades pela passagem do DIA DO PROFESSOR.

(Texto de John Schlatter, adaptado por Guiomar de Mello)

domingo, 11 de outubro de 2009

Substantivo Concreto x Substantivo Abstrato II

Na parte I desta postagem, pesquisei algumas gramáticas para tentar sintetizar um conceito bem definido a respeito da diferenciação entre substantivo concreto e abstrato. Confesso que ainda não fiquei tão satisfeito com o resultado, principalmente pelo termo COISAS, presente no conceito de concreto, pois é um vocábulo muito vago, que dá margem a muitas interpretações; mas aí está:

Substantivo contreto: representa seres propriamente ditos, ou seja, que têm existência própria e podem ser reconhecidos pelos sentidos, bem como distinguidos entre animados ou inanimados, reais ou criados pela imaginação: pessoas, animais, vegetais, minerais, coisas e instituições.


Substantivo abstrato: designa sentimentos, sensações físicas, ações, estados, qualidades (características), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual. Além de estar sempre apoiado em algo para ser percebido, foge à distinção entre animado ou inanimado, real ou imaginário. As noções nomeadas pelo substantivo abstrato denotam propriedades abstraídas (separadas) dos seres propriamente ditos.


Nesta postagem tentarei enquadrar as palavras abaixo numa das duas classificações, de acordo com os conceitos que consegui obter com a pesquisa:
 
Carnaval - quando pus essa palavra, estava pensando no período que vai do Sábado de Zé Pereira à Quarta feira de Cinzas. É um desafio imenso classificar essa palavra, pois eu não lembro de ter visto uma vez sequer nomes de datas comemorativas como exemplo da classificação concreto x abstrato. Parece que as gramáticas têm consciência da vaguidão do seu conceito e foge a palavras que ofereçam mais dificuldade. Pegando o conceito de substantivo contreto (tem existência própria), acredito poder enquadrar datas comemorativas como CONTRETO, pois, apesar de ser uma convenção humana a sua existência, elas passam a acontecer sem que ninguém aja para isso.
 
Chulé - ser inanimado e real, mais real do que deveria, se enquadra como CONCRETO também por ser reconhecido pelos sentidos (e como!).
 
Bagunça - essa palavra é passível de confusão, pois existe um verbo correspondente a essa palavra (bagunçar), mas que não é aceito como original, e, sim, derivado do substantivo bagunça. Dessa forma, não podemos dizer que bagunça é abstrato. É CONCRETO porque é reconhecível por pelo menos dois dos nossos sentidos: visão e tato.
 
Ar - devido ao conceito simplista apresentado por algumas gramáticas e reproduzido por alguns professores (abstrato é o que não se pode ver ou tocar), essa palavra é passível de equívocos. O ar é um ser de existência independente, ou seja, não se apoia na existência de nenhum outro ser. Além do mais, podemos apertá-lo, fazendo aquela experiência de apertar o êmbolo da seringa fechando a ponta. É, portanto, CONCRETO.
 
Carro - gosto de questionar os conceitos dessa classificação usando tal palavra. O substantivo concreto tem existência independente (mas o carro não precisa de homens e máquinas para montá-lo?). A nocão de independência de que falamos é a seguinte: o "ser" dependente precisa se apoiar na existência de outros seres para existir e ser percebido. Corrida, por exemplo, para existir deve se apoiar em alguém que esteja praticando a ação de correr. Se esse alguém parar de correr, não há mais corrida. O carro, por outro lado, depende de outros seres para ser fabricado, mas independe deles para continuar existindo. CONCRETO então.
 
Idade Média - refere-se a um período da história humana. Não é uma noção abstraída de algum ser, mas a nomeação de um intervalo de tempo, que não dependeu de ninguém para acontecer (dependeu de alguém para pôr tal nome, o que não é o mesmo caso). Então é CONCRETO.
 
Poema - é uma composição poética escrita em versos. É perceptível pelo sentido da visão e da audição (quando recitado). Depois de escrito, não depende que alguém esteja lendo para existir, por exemplo. Poema, dessa forma, é CONCRETO.
 
Poesia - é uma concepção. A grosso modo, é uma composição artística cujo conteúdo apresenta uma visão emocial da abordagem de ideias. Pode ser percebida pelos sentidos, portanto é CONCRETO.
 
 Educação - Primitivamente, educação é o nome da ação de educar, sendo, assim, ABSTRATO.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dicas para aproveitar o feriadão - imagens dizem mais que palavras












BOM FERIADÃO!!!!

Meu óculos quebrou!!! Ou meus óculos quebraram???

Enquanto noticiava pelo msn à minha namorada a respeito do que aconteceu ao meu par de óculos (uma das hastes ou pernas quebrou), lembrei que o substantivo óculos oferece bastante dificuldade na hora de usar a norma padrão.
Na fala do dia-a-dia, mesmo a mais formal, a tendência no português do Brasil é utilizar a palavra como se ela fosse singular. Ex. "Não acho meu óculos", "Preciso comprar um óculos de sol", "O óculos dela é chique!" etc. Se você fala assim, não se preocupe; a maioria dos brasileiros usa (oralmente) o termo óculos dessa forma. Claro, se você prefere usá-lo conforme o padrão escrito (como vou mostrar) na fala, em especial em contextos mais formais, fica a seu critério.

Bem, buscando o significado no dicionário Houaiss, encontro o seguinte significado para "óculos": substantivo masculino plural, dispositivo usado para auxiliar, corrigir ou proteger a visão, que consiste em um par de lentes sustentadas em frente dos olhos por uma armação; lunetas. Etimologia: plural de óculo. Temos aí uma informação importante: é plural de óculo, que é cada uma das lentes que compõem os óculos.

Cito mais uma vez Houaiss, mas dessa vez para concordar e discordar:
Ele diz que a palavra óculos é naturalmente plural (só no plural é que ela representa o objeto de que estou falando nesta postagem), "sendo, portanto, erro a discordância de número (um óculos) que se tem vulgarizado no português coloquial do Brasil (formas corretas: uns óculos, meus óculos, um par de óculos)".

De fato, segundo a gramática padrão, as palavras ligadas ao substantivo "óculos" devem concordar com ele no plural. Então: "Não acho meus óculos", "Preciso comprar uns óculos de sol / um par de óculos de sol", "Os óculos dela são chiques". Usemos dessa forma na escrita formal.
 
Discordo, por outro lado, da forma como o dicionário de refere à língua coloquial, com termos como erro e vulgarizado, ignorando os inúmeros avanços que as diversas vertentes da linguística trouxeram e trazem constantemente. Como eu disse no início da postagem e em algumas outras, a língua falada não exige um uso exatamente como determina a gramática padrão(GP). Mesmo em contextos formais, há construções que soam artificiais quando faladas. Na escrita formal, por outro lado, devemos nos adequar à GP, sendo, contudo, realistas e atentando ao fato de algumas construções serem pouco usadas "no papel" atualmente (mesóclise, por exemplo). Cabe ao falante, portanto, conhecer e usar as diversas variedades de sua riquíssima língua portuguesa de acordo com suas necessidades.
Tenho dito.

"Compre, então, um óculos escuro e aproveite o feriadão!!!!"
Diogo Xavier

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Para eu ou para mim?

Não deixem de curtir nossa página lá no FACEBOOK: http://www.facebook.com/minhalínguaeeu/

Saber quando usar a expressão "para eu" ou "para mim" não é um bicho de sete cabeças. Antes de tudo é preciso esclarecer uma coisa: na linguagem oral, a tendência é utilizar sempre o "para mim" e isso não constitui um erro. Devemos apenas tomar o cuidado de num contexto de fala mais formal, bem como na escrita, utilizar as duas expressões conforme "determina" a norma padrão, e é o que veremos aqui.

Primeiro, convém dizer que tanto EU como MIM são expressões que se enquadram na categoria gramatical pronome. Eu - pronome pessoal do caso reto. É usado, por quem fala ou escreve, para se referir a si mesmo. Exerce função de sujeito da oração. Mim - pronome pessoal do caso oblíquo correspondente ao pronome "eu", sempre regido de preposição. Exerce, predominantemente, a função de complemento verbal na oração.

Para EU: é usado quando "eu" é o sujeito do verbo (que vem logo depois, no infinitivo).
Ex. Ele comprou uma revista para eu ler. Temos aqui duas orações. O verbo da primeira (comprou) tem como sujeito ELE. Na segunda oração, cujo verbo é LER, o sujeito é indicado pelo pronome EU. A expressão PARA EU neste caso está indicando PARA FAZER O QUÊ a primeira ação foi praticada.
Outros exemplos:
Mandei-o comprar a massa para eu preparar a pizza. (comprar massa para fazer o quê).
Fui à Bienal e comprei dois livros para eu estudar. (comprar livros para fazer o quê) (nesse caso, o sujeito das duas orações é o mesmo, por isso o pronome poderia ficar oculto e o sujeito seria identificável pela flexão do verbo [fui]). Fui à Bienal e comprei dois livros para estudar.
Precisamos marcar um dia para eu mostrar a vocês as minhas pinturas. (marcar um dia para fazer o quê).

Para MIM: deve ser usado quando o pronome "mim" estiver completando o sentido ou indicando o alvo de alguma ação.
Ex. Ele comprou uma revista para mim. Neste caso, só temos uma oração, e quem pratica a ação dela é o pronome ELE. A expressão "para mim" está apenas indicando PARA QUEM a ação foi feita. O "para mim" também pode ter o sentido de NA MINHA OPINIÃO.
Ex. Para mim, vocês deveriam esperar até amanhã o resultado. Quem está praticando a ação é o pronome de tratamento VOCÊS, e não MIM.
Outros exemplos:
Ela ainda não sabe o que vai dar para mim de presente. (dar para quem?)
Não resta outra escolha para mim. (não resta para quem?)
Não olhe para mim desta forma. (não olhar para quem?)
Para mim, fazer isso é loucura. (na minha opinião; a meu ver)
Vou à Bienal para comprar uns livros para mim. (comprar para quem?)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Questão de concurso - conjugação verbal

Estou criando hoje uma nova categoria de postagens, dedicada a resolver dúvidas acerca de questões de provas - concursos públicos, vestibulares etc. Que. tiver dúvida a respeito de alguma questão, pode enviar para o meu e-mail: diogoicarol@yahoo.com.br. Tentarei responder o mais rápido possível.

A questão de hoje foi retirada da prova para professor de biologia da Secretaria de Educação de PE, do ano de 2006, realizada pelo Ipad.

Questão 07. Observe a forma verbal destacada, no trecho: “Basta que sejamos seres humanos.” O verbo também está corretamente conjugado na alternativa:

A) Basta que quisermos parecer humanos.
B) Basta que venhamos a ser como os seres humanos.
C) Basta que teremos características de seres humanos.
D) Basta que dizemos a verdade aos seres humanos.
E) Basta que fizermos tudo como os seres humanos.

Antes de partir para a resolução, convém tecer alguns comentários. Pude identificar, desde quando comecei a trabalhar na área docente, que a maior dificuldade do candidato numa prova de concurso ou vestibular é a interpretação. Não falo somente das questões de interpretação de textos, mas da prova toda, de uma forma geral. Para responder uma questão, é preciso primeiro entendê-la bem, compreender o que se pede, para poder aplicar os conhecimentos possuídos na resolução. Daí a importência de ler e compreender o que se lê, habilidade que só se adquire na prática: lendo constantemente.

A questão que responderemos aqui nos dá uma frase com um dos verbos conjugado no presente do subjuntivo (sejamos), pois a expressão "basta que" exige o tempo e o modo citado. A alternativa que pretendemos encontrar é a que possui o verbo conjugado adequadamente, ou seja, no mesmo tempo e modo da frase dada pela questão.

Uma das formas de resolver essa questão é tentar identificar o tempo e o modo de cada alternativa e eliminar as alternativas incorretas, vejamos:
A) Basta que quisermos parecer humanos. Podemos facilmente identificar o modo do verbo em questão, uma vez que "quisermos" exprime uma possibilidade, algo incerto - modo subjuntivo. O tempo, porém, está inadequado, já que "quisermos" indica uma possibilidade futura, facilmente percebido se colocarmos "quando" no lugar de "basta que". Se, porém, colocássemos a expressão "é necessário que", expressão que denota tempo presente, soaria estranho, incoerente. O correto seria "queiramos".
B) Basta que venhamos a ser como os seres humanos. Mais uma vez o modo verbal é o subjuntivo. Para identificar o tempo verbal podemos empregar o "é necessário que". Dessa vez, o verbo se encaixa perfeitamente. Sendo assim, a alterativa B está correta.
C) Basta que teremos características de seres humanos. O modo aqui não é o subjuntivo, e, sim, indicativo. "teremos está conjugado no futuro do indicativo. O presente do subjuntivo seria "tenhamos".
D) Basta que dizemos a verdade aos seres humanos. Mais uma vez, modo indicativo; tempo presente, para ser mais específico. No presente do subjuntivo, a conjugação é "digamos".
E) Basta que fizermos tudo como os seres humanos. Temos, dessa vez, o verbo conjugado no futuro do subjuntivo - "quando fizermos". O correto seria "basta que façamos.

Convém observar que o verbo na primeira pessoa do plural (nós) no presente do subjuntivo possui a mesma forma do imperativo afirmativo:
façamos, queiramos, comamos, vejamos, digamos, falemos etc.

Então a reposta para a questão é a alternativa B.


Espero ter esclarecido, ao menos um pouco, a questão.
Abraços,
Prof. Diogo Xavier

Menina no Jardim - para gostar de ler (prosa)

Menina no Jardim
Paulo Mendes Campos

Em seus 14 meses de permanência neste mundo, a garotinha não tinha tomado o menor conhecimento das leis que governam a nação. Isso se deu agora na praça, logo na chamada República Livre de Ipanema.

 

Até ontem ela se comprazia em brincar com a terra. Hoje, de repente, deu-lhe um tédio enorme do barro de que somos feitos: atirou o punhado de pó ao chão, ergueu o rosto, ficou pensativa, investigando com ar aborrecido o mundo exterior. Por um momento seus olhos buscaram o jardim à procura de qualquer novidade. E aí ela descobriu o verde extraordinário: a grama. Determinada, levantou-se do chão e correu para a relva, que era, vá lá, bonita, mas já bastante chamuscada pela estiagem.


Não durou mais que três minutos seu deslumbramento. Da esquina, um senhor de bigodes, representante dos Poderes da República, marchou até ela, buscando convencê-la de que estava desrespeitando uma lei nacional, um regulamento estadual, uma postura municipal, ela ia lá saber o quê.

Diga-se, em nome da verdade, que no diálogo que se travou em seguida, maior violência se registrou por parte da infratora do que por parte da Lei, um guarda civil feio, mas invulgarmente urbano.

- Desce da grama, garotinha - disse a Lei.

- Blá blé bli bá - protestou a garotinha.

- É proibido pisar na grama - explicou o guarda.

- Bá bá bá - retrucou a garotinha com veemência.

- Vamos, desce, vem para a sombra, que é melhor.

- Buh buh - afirmou a garotinha, com toda razão, pois o sol estava mais agradável do que a sombra.

A insubmissão da garotinha atingiu o clímax quando o guarda estendeu-lhe a mão com a intenção de ajudá-la a abandonar o gramado. A gentileza foi revidada com um safanão. “Dura lex sed lex”.

- Onde está sua mamãe?

A garotinha virou as costas ao guarda com desprezo. A essa altura levantou-se do banco, de onde assistia à cena, o pai da garota, que a reconduziu sob chorosos protestos à terra seca dos homens, ao mundo sem relva que o Estado faculta ao ir e vir dos cidadãos.

A própria Lei, meio encabulada com o seu rigor, tudo fez para que o pai da garotinha se persuadisse de que, se não há mal para que uma brasileira tão pequenininha pise na grama, isso de qualquer forma poderia ser um péssimo exemplo para os brasileiros maiores.

- Aberto o precedente os outros fariam o mesmo - disse o guarda com imponência.

- Que fizessem, deveriam fazê-lo - disse o pai.

- Como? - perguntou o guarda confuso e vexado.

- A grama só podia ter sido feita, por Deus ou pelo Estado, para ser pisada. Não há sentido em uma relva na qual não se pode pisar.

- Mas isso estraga a grama, cavalheiro!

- E daí? Que tem isso?

- Se a grama morrer, ninguém mais pode ver ela - raciocinou a Lei.

- E o senhor deixa de matar a sua galinha só porque o senhor não pode mais ver ela?

O guarda ficou perplexo e mudo. O pai, indignado, chegou à peroração:

- É evidente que a relva só pode ter sido feita para ser pisada. Se morre, é porque não cuidam dela. Ou porque não presta. Que morra. Que seja plantado em nossos parques o bom capim do trópico. Ou que não se plante nada. Que se aumente pelo menos o pouco espaço dos nossos poucos jardins. O que é preciso plantar, seu guarda, é uma semente de bom-senso nos sujeitos que fazem os regulamentos.

- Buh bah - concordou a menina, correndo em disparada para a grama.

- O senhor entende o que ela diz? - perguntou o guarda.

- Claro - respondeu o pai.

- Que foi que ela disse agora?

- Não a leve a mal, mas ela mandou o regulamento para o diabo que o carregue.

(“Para Gostar de Ler” - antologia escolar)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Más, mais ou mas???

Apesar de a diferença entre essas palavras ser simples, muita gente tem dúvida na hora de escrever. Mais uma vez, o fator determinante para que haja essa dúvida é a oralidade. Na fala, as três palavras não pronunciadas da mesma maneira, daí a dúvida na hora de escrever.

Sem mais enrolação, aí vão as explicações:

Mas (conjunção adversativa) - liga ideias ou orações, relacionando-as com um valor de oposição, algo contrário à expectativa. Exemplo: Trabalhei muito, mas não estou cansado. (Espera-se de quem trabalhou muito que esteja cansado). Estudou muito, mas não passou. (Se a pessoa estudou muito, espera-se que ela passe [de ano, em uma prova etc.]). Tem o mesmo valor de "porém, entretanto, todavia, contudo..."

Mais - liga-se a advérbios, adjetivos, verbos ou substantivo, acrescentando uma circunstância de intensidade ou quantidade maior, grau superior. Ex. Precisou de mais farinha. (pronome indefinido - quantidade maior de farinha). Devemos nos esforçar mais. (advérbio - com maior intensidade). Representa também o sinal de adição na matemática (+); ainda com o sentido de adição, pode ser usado com o valor da conjunção aditiva "e": Guardou no cofre as jóias mais (e) as barras de ouro. Pode também ter o valor de "novamente": Não quero mais ver você. (Não quero ver você novamente).


Más (adjetivo, flexionado no feminino e no plural) - é o feminino plural de mal: feminino - má; feminino plural - más. Tem o sentido de malvadas, ruins. Ex. Ele, dizem as más línguas, foi demitido por incompetência. (línguas malvadas, mal-intencionadas). Algumas pessoas são más. (ruins, perversas).

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Para gostar de ler - poesia

INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO
Gregório de Matos
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Substantivo Concreto x Substantivo Abstrato I

Introdução (um pouco longa, por sinal) (quem quiser só saber objetivamente o que é substantivo concreto e abstrato pode pular para o final, onde a letra está maior)
Em muitos casos, algo explicado de forma muito simples acaba complicando mais as coisas. Quando ensinamos Língua Portuguesa, muitas vezes nos deparamos, em livros de gramática ou didáticos, com conceitos da gramática normativa vagos, mal-explicados e, quando comparamos autores, até contraditórios. Acredito que o ato de pesquisar deve ser inerente à profissão docente. Essa pesquisa se faz necessária, entre outros momentos, quando nos deparamos com esses conceitos vagos, mal-explicados. Se explicarmos aos alunos da forma simplista que alguns livros trazem, corremos o risco de perder  nosso tempo, caso os estudantes não compreendam. Quem está sintonizado com as novas tendências do ensino de Língua Portuguesa sabe que o ideal é que partamos do texto e a ele voltemos para explicar os aspectos gramaticais de nossa riquíssima língua. Não irei me ater a esse ponto. O que pretendo hoje é fazer uma pesquisa comparativa para ver se consigo encontrar alguma explicação inteligível, concreta (perdoe o trocadilho) acerca da diferença entre o substantivo concreto e o substantivo abstrato. Cansei daquela explicação de que concreto é aquilo que pode ser tocado ou sentido... aliás, são 22h (11/09, "aniversário" do ataque às torres gêmeas) e eu estou sentindo sono (substantivo abstrato).
Tenho aqui comigo quatro livros que consultarei:

  • Gramática de Hoje, de Ernani & Nicola. São Paulo: Scipione, 1999.



  • Gramática do Português Contemporâneo - edição de bolso, de Celso Cunha. Porto Alegre: Lexikon, 2008.


  • Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo. São Paulo: Publifolha, 2008.


  • Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

Pretendo, ao fim da comparação, classificar (concreto ou abstrato) com base nos dados obtidos os seguintes substantivos: Carnaval, chulé, bagunça, ar, carro, Idade Média, poema, poesia, educação. Esses substantivos são alguns dos muitos que causam bastante dúvida nos alunos (e até nos professores) na hora de fazer a classificação em questão.
Ernani & Nicola conceituam substantivo concreto como aquele que "designa os seres reais ou imaginários que têm existência própria." (p.88). Substantivo abstrato, segundo os mesmos autores, é o que "designa as qualidades ou ações tomadas como seres. Os substantivos abstratos, por não terem existência própria, sempre estão apoiados em algo para serem percebidos." (p.88).
Segundo Cunha, contretos são "os substantivos que designam os seres propriamente ditos, isto é, os nomes de pessoas, animais, vegetais, lugares, instituições, coisas." (p.106). Abstratos, para ele, são "substantivos que designam noções, estados, qualidades, considerados como seres." (p.107).

A Gramática Houaiss, diferentemente das duas anteriormente citadas, explica de uma maneira mais extensa a diferença entre as duas classificações em questão. Segundo o autor, Azeredo, "A distinção entre concreto e abstrato refere-se a dois modos de representar os conceitos denotados pelos substantivos: seres animados ou inanimados, reais ou criados pela imaginação, mas que 'estão no mundo' como seres reconhecíveis pelos sentidos, são nomeados por substantivos concretos [...]; noções que denotam propriedades abstraídas dos seres concretos, e não estão sujeitas à distinção animado x inanimado, real x imaginário, são nomeadas por substantivos abstratos". (p.155). Azeredo completa: "É comum a alteração semântica do substantivo abstrato para designar uma entidade concreta. É o caso de chamar construção ou edificação ao prédio, entrada ou saída aos lugares por onde se entre ou sai [...] Também é possível o emprego do substantivo concreto para designar uma entidade abstrata. É o caso de coroa para denotar o poder do rei ou do imperador, ou de luz para significar esclarecimento." (p.156).
Vejamos como Bechara conceitua substantivo concreto: "é o que designa ser de existência independente: casa, mar, sol, automóvel, filho, mãe. [...] Os substantivos contretos nomeiam pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas.", (p.113). Substantivo abstrato, conforme diz a Moderna Gramática Portuguesa, "é o que designa ser de existência dependente: prazer, beijo, trabalho. [...] Os substantivos abstratos designam ações (beijo, trabalho, saída, cansaço), estado e qualidade (prazer, beleza), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual." (p.113).
Bem, preciso dar uma pausa para dormir (são só 22:28, mas o sono é insistente). Os conceitos de cada livro foram coletados, resta agora analisar e comparar. Mas isso fica para depois...
PAUSA

São aproximadamente 21:20, do dia 15/09. Só agora estou retomando a postagem devido à correria dos trabalhos.
Bem, juntando (por justaposição) todos os conceitos apresentados a respeito do substantivo concreto, temos: designa seres reais ou imaginários que têm existência própria; designam seres propriamente ditos (os nomes de pessoas, animais, vegetais, lugares, instituições, coisas); representam seres que podem ser distinguidos em animados ou inanimados, reais ou imaginados, que, de certa forma estão no mundo como seres reconhecíveis pelos sentidos; designam seres de existência independente (pessoas, lugares, animais, vegetais, minerais e coisas).
Isolados, esses conceitos são um pouco confusos, uns mais e outros menos. O fato de representar seres de existência independente, por exemplo, suscita a questão: o que é existência independente? Carro, segundo a classificação é concreto e, portanto, "não precisa de outro ser para existir". Mas ele se fez sozinho ou foi construído por outros seres (máquinas e homens)?
Tentarei fundir esses conceitos extraídos das gramáticas em estudo:
Substantivo contreto: representa seres propriamente ditos, ou seja, que têm existência própria e podem ser reconhecidos pelos sentidos, bem como distinguidos entre animados ou inanimados, reais ou criados pela imaginação: pessoas, animais, vegetais, minerais, coisas e instituições.
Vejamos agora os conceitos para substantivo abstrato: designa qualidades ou ações, tomadas como seres, e está sempre apoiado em algo para ser percebido;  designa noções, estados, qualidades, considerados como seres; nomeia noções que denotam propriedades abstraídas dos seres propriamente ditos, que não estão sujeitas à distinção entre animado ou inanimado, real ou imaginário; designa ser de existência dependente: ações, estado e qualidade, considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual.
Vamos ver o que eu consigo fundindo essas informações e acrescentando umas mais:
Substantivo abstrato: designa sentimentos, sensações físicas, ações, estados, qualidades (características), considerados fora dos seres, como se tivessem existência individual. Além de estar sempre apoiado em algo para ser percebido, foge à distinção entre animado ou inanimado, real ou imaginário. As noções nomeadas pelo substantivo abstrato denotam propriedades abstraídas (separadas) dos seres propriamente ditos.
Falta tentar usar os conceitos para classificar os substantivos que citei no início do post: Carnaval, chulé, bagunça, ar, carro, Idade Média, poema, poesia, educação. Isso, porém, vai ficar para a continuação...
Espero que não tenham morrido de tédio com esta longa postagem.
Abraços
Diogo Xavier

sábado, 5 de setembro de 2009

Se ela não veio é porque está doente – sujeito?

Uma leitora do blog, Fernanda, levantou a seguinte questão: por que a oração citada (Se ela não veio é porque está doente) é considerada sem sujeito?


Na verdade, não se trata de UMA oração, mas duas. Não tão simples de analisar, por sinal. Isso porque elas usam recursos um pouco informais, de ênfase. “Se” e “é” estão cumprindo essa função de ênfase. Retirando esses elementos, ficaria “Ela não veio porque está doente”. O sentido seria o mesmo, apesar de perder a ênfase pretendida por quem inseriu tais elementos.


A conjunção SE é geralmente empregada em orações subordinadas adverbiais condicionais, apresentando uma condição para que a ação ou o fato da oração principal aconteça. Exemplo: Se não chover, vou à praia.
A ação expressa na oração principal (vou à praia) é condicionada ao que está expresso na oração subordinada (se não chover).


No caso da frase em questão (Se ela não veio é porque está doente), o “SE” não dá incerteza à oração principal: ela está doente, isso é fato. Logo, a oração subordinada é adverbial causal.


Agora, vamos falar do sujeito:


O que seria oração sem sujeito?


Esse tipo de oração quando não é possível atribuir a nenhum ser (concreto ou abstrato, real ou imaginário) a informação contida no predicado. Diz-se, então, que o verbo é impessoal e o sujeito é inexistente.
Os exemplos mais comuns de oração sem sujeito são o verbo “haver” com o sentido de existir e os verbos que indicam fenômenos naturais.
Ex. muita gente aqui.
Venta bastante na varanda do quarto.


Visto isso, vamos às orações:
 1ª oração: Se ela não veio – sujeito expresso: “ela”.
2ª oração: é porque (ela) está doente – sujeito OCULTO: ela.


Então, caros leitores, não temos aí nenhuma oração sem sujeito, e sim um sujeito oculto, recurso utilizado para evitar repetições desnecessárias.

Espero ter elucidado mais do que complicado.
Abraços


Diogo Xavier